A cachaça envelhecida na maioria das vezes é usado madeiras que interferem na qualidade da bebida. O texto a seguir do estudioso e pingófilo Marcelo Câmara, argumenta justamente isso, e questiona
algumas cachaças mineiras sobre a sua qualidade.
Quem produz cachaça de qualidade, com excelência sensorial, exibe, com orgulho, a nova (branca e fresca), pingada na ponta do alambique, a descansada em madeiras quase neutras e a envelhecida em madeiras adequadas, com disciplina e esmero, sob as rigorosas normas físico-químicas e ambientais da boa técnica do envelhecimento. Tudo isto sem temores, sem subterfúgios, sem tergiversações, sem ladinagens. Onde está a Cachaça Anísio Santiago? É temeroso apresentá-la. Certamente é ruim, imbebível. Qualquer alambiqueiro sábio, competente e honesto sabe que nenhuma cachaça armazenada por mais de três ou, no máximo, quatro anos, especialmente em madeiras agressivas, como o aromático bálsamo, não permanece cachaça, e não se torna, verdadeiramente, cachaça envelhecida. O resultado são extratos de madeira com álcool, aquelas às quais um mestre alambiqueiro chamou de “pingas de pau”. E isto é o que acontece com quem não obtém uma cachaça com excelência sensorial, pura e limpa, de aroma agradável, saborosa, de boa degustação e digestibilidade. A saída, o recurso, é mascarar a sua má qualidade sensorial, maquiá-la com a madeira que fascina e engana o consumidor comum, acostumada a beber cachaças ruins, nauseabundas, artesanais ou industriais, amadeirá-la rápida e intensamente com lenhos agressivos e crus, ou, lenta e excessivamente, com qualquer madeira, mesmo as agressivas curtidas, que tenham hospedado exclusivamente cachaça por décadas.
Marcelo Câmara
Ilustração: Cavic
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